Tenho 46 anos e há 27 anos sou professora. Sou casada e temos uma linda e amada filha de 7 anos. Meu marido me incentiva muito e valoriza minha profissão. Há 10 anos resido e trabalho em Gravataí, na E. E. de Ensino Fundamental Professora Clotilde Rosa. Nasci na cidade de Montenegro e lá vivi até 1995. Em 1975, fui cursar o Magistério no Colégio São José, porque era sonho do meu pai formar suas duas filhas professoras. Não era bem o que eu queria, mas minha mãe achava melhor que fizéssemos um segundo grau profissionalizante. Durante o curso passei por algumas dificuldades: era uma nova escola, um novo grupo, um novo "castelo", como o do "rei" (de "O Conto da Ilha Desconhecida" - José Saramago) cheio de "portas" e a porta mais importante era a porta das posses. Estudava com bolsa e, na sua maioria, minhas colegas vinham de um meio mais avantajado. Minha mãe era merendeira e meu pai industriário. Dei-me mal nos trabalhos visuais que construía para meus futuros alunos (maquetes, cartazes, jogos ,etc...) e que eram muito valorizados pelos formadores. Eu era , então, a "mulher da limpeza", do povo, não dada a esses trabalhos delicados. Pensava eu com minhas "vassouras" e "baldes": "Que porcaria serei como professora? Não agrado fazendo maquetes e cartazes. Não gosto de pintar tampinhas e palitos. Não tenho grana para aplicar nisso..."
Fiquei com medo de conhecer o meu "barco" por dentro e de ser parte dessa "tripulação", também.
Ledo engano, pois o destino estava atrás de mim estendendo a mão e tocando o meu ombro (Saramago,1998), porque , a partir do momento em que fui para a sala de aula, dei-me conta da empatia que tinha com meus alunos, do quanto conseguia comunicar-me com eles, do quão prazeirosas, alegres e produtivas eram as nossas aulas. Era a minha querida "tripulação" e o "mar" não era tão
"tenebroso", assim. Gostei do meu "barco" . Gostei tanto que navego nele há 27 anos. Muitas conquistas, algumas "tempestades", várias trocas de "velas", mas ainda com alegria, tesão, prazer de ensinar. Às vezes com temor de entrar em seus "porões" para limpá-los, mas com coragem pra pegar a "vassoura" como uma "espada" pra debandar as "gaivotas" que poluem a escola: a falta de recurso, a falta de compromisso de algumas famílias com seus filhos, a incompetência de alguns profissionais da educação, a minha ignorância em lidar com as dificuldades de meus alunos,...
Apesar do " mar tenebroso"(algumas vezes) e das "gaivotas", ainda consigo "sonhar" , "semear os grãos das pequenas searas" e "enfeitar os canteiros com as flores que desabrocham" em minhas mãos. Ainda, à procura de mim mesma, das "minhas ilhas desconhecidas", querendo discutir com todos:
_ Que postura e visão deve ter o professor nos dias de hoje?
_ Qual é o papel real da escola ?
_Do professor?
_Da família?
_Do aluno?
_O que devemos fazer para que acabe essa desilusão que muitos professores estão tendo com a educação?
Colegas esse "barco" é o nosso. A "tripulação" somos nós. Estou adorando "navegar" com todos vocês usando como "leme" essa "ilha", nem tão "desconhecida"(agora, né?) , o computador.